terça-feira, 15 de setembro de 2009

Palavrrões também são importantes- Luis Fernando Veríssimo

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas, dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita qualidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A via-láctea tem estrelas pra caralho, o sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do "pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem fodendo!". O "Não, não e não!", assim como o "Absolutamente não" já soam sem nenhuma credibilidade.
O "nem fodendo!" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro para ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo:
Marquinhos, presta atenção, filho querido, "NEM FODENDO!".
O impertinente se manca na hora e vai para o Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Caetano Veloso.
Por sua vez, "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negociação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata aquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
Há outros palavrões, igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "puta-que-o-pariu!", falados asssim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o- pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no meio do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável!, se dirige ao canalha do seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no meio do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um todo umprovidencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".
Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho (a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e Foda-se!".

Relatório Reflexivo sobre as Atividades do Gestar II

Área de Formação: Língua Portuguesa
Coordenador da Área de Formação: Prof. Dr. Dioney M. Gomes
Formadora - UnB: Andreia Alves dos Santos
Formadora Estadual: Luiza Liene Bressan
Estado: SC Município: Orleans
Nº de cursistas: 07 (sete) cursistas
Mês de referência: Setembro/2009

Relatório das Atividades Desenvolvidas no GESTAR II

Realizamos mais três encontros no mês de agosto. Nestes encontros continuamos as discussões acerca do planejamento da escrita e da argumentação na linguagem. O TP6 é um volume bastante amplo e as discussões acerca da argumentação merecem muita atenção, pois este tipo de texto e seus gêneros circulam na sociedade e, na maioria das vezes, são formadores de opinião. Nossos cursistas desenvolveram muitas atividades em sala de aula, sob a orientação dos professores formadores, objetivando desenvolver metodologias que auxiliem na aplicação prática destas atividades e que se tornem fazeres cotidianos nas escolas, uma vez que a linguagem humana está carregada de intencionalidade e precisa ser compreendida em seus vieses para que possamos interagir com práticas sociais na sociedade.
Bichibichi nos diz que a argumentação busca convencer, influenciar, persuadir alguém, defender ou repudiar uma tese ou ponto de vista. E sendo a argumentatividade fundamental para a interação social por intermédio da língua, tem-se a importância de fazer um trabalho efetivo na escola que leve o aluno a desenvolver essa habilidade tão necessária para torná-lo um cidadão capaz de atuar plenamente na sociedade. Por isso, este trabalho apresenta as características básicas da argumentação e procura identificar essas características em diferentes gêneros textuais, para demonstrar que a argumentação é ato inerente à língua, independentemente do suporte de que a mesma se utiliza.
Koch (2006) defende que o ato linguístico fundamental é a argumentação “isto é, de orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato lingüístico fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo”. (KOCH, 2006,p. 17).
O professor de Português deve desenvolver a capacidade argumentativa de seus alunos, pautando-se em um ensino e aprendizagem que leve em conta os textos, que se concretizam na forma de gêneros textuais falados e escritos), para que aprimorem o domínio discursivo na oralidade, leitura e escrita e assim possam desenvolver técnicas para realizar a argumentação e também desenvolver o senso crítico para reconhecer argumentações vazias de conteúdo, credibilidade, quando se depararem com elas e não se deixarem envolver por um discurso eloquente, envolvente, mas sem grande significação.
No Brasil, embora os Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa orientem para a necessidade de se desenvolver a capacidade de contraposição e argumentação de ideias desde as primeiras séries do ensino fundamental, o ensino mais sistemático da argumentação é introduzido nas aulas de língua portuguesa muito tardiamente, se observamos, por exemplo, as coleções didáticas que subsidiam o trabalho de muitos professores.
Além dessas discussões, visitamos nossos cursistas em suas escolas, prestando colaboração na aplicação do projeto interdisciplinar. Ficamos muito satisfeitas ao perceber o empenho dos alunos na execução das atividades propostas e como o docente está envolvido com as propostas de trabalho do Gestar II. Alguns gestores escolares manifestaram seu contentamento com o trabalho que está em desenvolvimento nas unidades escolares.
Como formadora, sinto que, a cada encontro, apesar das dificuldades em função de políticas educacionais nem sempre motivadoras, os professores estão comprometidos, participam entusiasticamente das atividades e estão muito conscientes de seu papel transformador na sociedade. Assim, para mim, o programa provocou um crescimento profissional significativo, motivando o desenvolvimento de metodologias que enriquecem o fazer pedagógico em sala de aula.
No Brasil, embora os Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa orientem para a necessidade de se desenvolver a capacidade de contraposição e argumentação de ideias desde as primeiras séries do ensino fundamental, o ensino mais sistemático da argumentação é introduzido nas aulas de língua portuguesa muito tardiamente, se observamos, por exemplo, as coleções didáticas que subsidiam o trabalho de muitos professores.